quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Mulheres na Ciência: Émilie du Châtelet

Continuando nossa tradução livre de alguns capítulos  do  livro Women in Science, publicado pela Comissão Européia de Investigação, apresentamos: 

Émilie du Châtelet: a Luz do Iluminismo

Entre a razão e o romance

Gabrielle Émilie le Tonnelier de Breteuil, Marquesa de Châtelet, nasceu em 1706. Era filha de Louis Nicolas le Tonnelier de Breteuil, secretário principal do rei Louis XIV. A posição de seu pai providenciou-lhe acesso à elite intelectual e aristocrática francesa desde sua infância.

Reconhecendo o brilho da filha, o pai, de forma não usual para a época, arranjou-lhe treinamentos em atividades físicas, tais como esgrima e equitação. Posteriormente arrumou-lhe  tutores que ensinaram-lhe Matemática, Literatura e Ciência. Além disso, Bernard le Bovier de Fontenelle – escritor de livros sobre Astronomia, introduziu-a nessa disciplina ainda em sua infância.

Sua mãe, Gabrielle-Anne de Froulay, criada e educada em um convento não aprovava as atividades  intelectuais da filha; o investimento porém, valeu a pena. Aos doze anos Émilie era fluente em grego, latim, italiano e alemão. No entanto, além das inclinações intelectuais, a jovem também tinha um lado indomado – gostava de dançar, tocar cravo, cantar ópera, era atriz amadora e exímia jogadora de jogos de azar. 

Maridos Tradicionais, Amantes Eruditos

Apesar de suas idéias e estilo de vida não convencional, Émile estabeleceu-se em um casamento aristocrático convencional. Em 1725 ela se casa com o Marquês Florent-Claude du Chastellet (ou Châtelet). Após o nascimento dos filhos (dois garotos e uma garota), ela e o marido fazem um acordo – comum entre a aristocracia francesa da época – viveriam vidas separadas, incluindo a manutenção de  amantes de ambas as partes, mas mantendo socialmente a família.

Aos 25 anos, em 1730, Émile terminou seu romance com o Duc de Richelieu (sobrinho-neto do famoso Cardeal do mesmo nome),  a quem ela influenciou  com sua paixão pela literatura e filosofia. Porém, o seu mais  famoso amante foi o quarto deles, cujo affair iniciou-se em 1733. Esse amante foi Voltaire, o famoso filósofo e escritor do Iluminismo, que freqüentava os salões do pai de Émile quando ela era mais jovem. Ela o abrigou em sua propriedade rural quando ele foi perseguido pelas autoridades devido às suas visões políticas controversas.

Eles viveram juntos durante quinze anos, em um encontro apaixonado de mentes e corações. Além de publicarem obras sobre Física e Matemática, construíram uma coleção de 21.000 obras, a qual era maior que as bibliotecas da maioria das universidades européias. A admiração de Voltaire por Émile era imensa. Ele declarou em uma carta que ela era “um grande homem cujo único defeito era ser uma mulher”.

Durante seu último caso de amor ela engravidou, e a febre puerperal a levou junto com seu bebê, para a morte, alguns dias após o nascimento deste, em 1749. Ela tinha 42 anos.

A natureza da luz intelectual

Devido aos constrangimentos impostos às mulheres pela sociedade francesa da época, não foi possível para Émilie seguir  uma educação similar à possibilitada aos homens. Entretanto, seu gênio, sua desenvoltura e seu apetite voraz pela aquisição de conhecimento, bem como o incentivo de seu pai ajudaram-na a superar esse desafio.

Com o nascimento do seu terceiro filho, Émilie considerou que suas responsabilidades conjugais já haviam sido cumpridas, podendo então dedicar-se à busca do conhecimento e às aventuras amorosas. Em 1737, publicou um paper sobre a natureza do fogo, no qual descreve  o que nós chamamos hoje de radiação infravermelha. Escreveu também reflexões sobre a natureza da luz.

Em 1738, ela e Voltaire publicaram seu trabalho conjunto de sucesso - Elements of Newton‘s Philosophy. Sua cooperação levou Voltaire a reconhecer o intelecto superior de Émilie, especialmente na Física. Uma década após a obra ser publicada, ele confidenciou: “ Eu costumava aprender junto com você, mas você agora voou para onde eu não posso mais seguir”. 

Trabalhos com Energia

Dois anos mais tarde, em 1740,  publicou Institutions de Physique (Lessons in Physics). O livro reuniu  idéias complexas dos principais pensadores da época, incluindo os  filósofos e matemáticos Gottfried Leibniz, Willem ‘s Gravesande e Isaac Newton, respectivamente, alemão, escocês e inglês.
Émilie mostrou que  a energia de um objeto em movimento é proporcional não à sua velocidade, como anteriormente se acreditava, mas ao quadrado da sua velocidade.

O ano final da vida dela coincidiu com a realização do que é amplamente considerada como a sua Opus Magnum: sua tradução comentada para o francês da Mathematica Principia de Newton, onde conseguiu extrapolar os princípios  da mecânica newtoniana sobre a conservação da energia.

Realizações Científicas

Émilie du Châtelet pode certamente ser mencionada como uma das principais figuras do Iluminismo. Seu trabalho ajudou  a disseminar a nova Física, a Matemática e a Filosofia Geral. Além disso, ela fez algumas descobertas significantes e desenvolveu sozinha  conceitos  importantes sobre a radiação infravermelha e a conservação da energia.

A despeito da admiração e estima que ela despertava nos principais intelectuais da época, seu gênero a ridicularizava entre os homens do Iluminismo. O filósofo alemão Immanuel Kant admirado com seu intelecto chegou a zombar comentando que uma mulher “que se instruiu nas controvérsias sobre mecânica como a Marquesa Du Châtelet podia muito bem ter uma barba”. Da sua parte, Émilie pedia ao mundo que a julgassem pelos meus méritos e não pelo seu sexo.

Na sociedade da época de modo geral, não era somente o fato de ela ser uma mulher que se constituía em tema controverso – as idéias iluministas que ela propagou, incluindo a Filosofia Natural Newtoniana, eram ainda consideradas heresias filosóficas por muitas pessoas.


Para saber mais sobre Émilie du Châtelet:

Livro sobre ela e seu caso de amor com Voltaire:



Título: Mentes Apaixonadas:

Emilie du Chatelet e Voltaire, O Grande Caso de Amor do Iluminismo

Autor: David Bodanis

Editora: Record
Edição: 1
Ano: 2012
Idioma: Português 


3 comentários:

  1. Que pena que essa mulher muito além de seu tempo nasceu numa época errada onde as mulheres não podiam ter inteligencia.A unica função que a mulher tinha nesta época era de casar e ser mãe.A mulher não tinha autonomia.Alguns homens espertos se destacaram porque tinha uma mulher atras deles.

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  2. ALGUMAS MULHERES DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA E QUESTÃO DE GÊNERO EM C & T.

    http://opirata2.blogspot.com.br/2012/05/livro-algumas-mulheres-da-historia-da.html

    http://sitiodascorujas.blogspot.com.br/2013/06/mulheres-na-matematica.html

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