Apresentamos mais um capítulo do livro Women in Science, publicado pela Comissão Européia de Investigação, em tradução livre nossa:
O Prodígio de Veneza
Nascida na aristocracia
veneziana, Elena Piscopia brilhou desde tenra idade. Veneza tinha sido o
principal centro do Renascimento na Itália, e Piscopia continuou a tradição
iniciada pelos seus antecessores masculinos, tais como Leonardo da Vinci, sendo
uma polímata.
Seu pai, Giovanni Baptista
Cornaro Piscopia, ocupante do alto cargo de procurador de São Marcos na
República de Veneza, foi o responsável pelo incentivo à genialidade da filha,
proporcionando-lhe as melhores oportunidades de aprendizagem que existiam na
época e advogando em sua causa nos corredores da academia, os quais eram
dominados exclusivamente por homens.
Ainda criança Elena ganhou o
título de ‘Oraculum Septilingue’ devido ao seu
plurilinguismo. Nessa época começou a apresentar grande capacidade de
raciocínio. Também possuía talento musical, dominando o cravo, o clavicórdio, a
harpa e o violino, bem como compondo músicas.
Antes dos vinte anos, sua paixão
pela Teologia e Filosofia levou-a a querer entrar para a ordem dos Beneditinos,
chegando a usar o hábito, não se tornando, porém, freira. Ao invés disso, seu
pai persuadiu-a a entrar na Universidade de Pádua em 1672, a terceira
universidade mais antiga da Itália, fundada em 1222, onde ela tornou-se a
primeira mulher européia a conseguir um doutorado. Esse evento singular fez com
que ela fosse respeitada e admirada por toda a Europa.
Apaixonada pela aprendizagem e
pela caridade aos necessitados rejeitou inúmeros pretendentes, dedicando-se a
essas atividades. Morreu em 1684, sendo enterrada na igreja de Santa Giustina
de Pádua. Uma estátua dela foi erigida na universidade e uma medalha emitida em
sua honra.
A linguagem do aprendizado
Com o encorajamento dado pelo
pai, ela acreditava fortemente na sua inteligência e habilidades e queria ser
reconhecida por isso. Com sete anos começou sua educação clássica, estudando
latim e grego, bem como gramática e música. Ela rapidamente dominou essas duas
línguas, além de espanhol, francês, árabe e hebreu. Mais tarde seus estudos incluíram Matemática,
Filosofia e Teologia. Na universidade de Pádua ela se sobressaía e seu brilho
tornava-se aparente para qualquer pessoa que a conhecesse. Devido ao seu forte
interesse em assuntos teológicos, ela inscreveu-se mais de uma vez para o
doutorado em Teologia.
Questões teológicas espinhosas
No entanto, se lhe fosse
conferido o grau de doutora em Teologia, automaticamente ela teria garantido
também, o direito a pregar – o que era contra a posição da igreja, pois à
mulher era dado somente o direito de “aprender em silêncio, com subordinação”,
de acordo com Timóteo I: 11-12. Assim, sua vontade de cursar Teologia causou confusão e resistência entre o
clero. Eles então lhe ofereceram a alternativa para inscrever-se no doutorado
em Filosofia.
O seu exame de doutorado seria
realizado no hall da universidade, mas, devido ao grande número de pessoas que
queriam assisti-lo, transferiram-no para a Catedral da Virgem Abençoada, na
cidade. Elena falou durante uma hora, em latim clássico, explicando passagens
difíceis da obra de Aristóteles selecionadas randomicamente. Seu desempenho
impressionou seus examinadores, conseguindo assim, em 1678, aos 32 anos, o grau
de doutorado.
Realizações Científicas
No mesmo ano em que conseguiu o
grau acadêmico almejado, tornou-se lecturer
em Matemática na Universidade de Pádua. Seus escritos, publicados postumamente
em Parma em 1688 incluem discursos acadêmicos, traduções e tratados
devocionais. Ela tornou-se membro de várias academias e sociedades por toda a
Europa, e era visitada regularmente por estudiosos estrangeiros.
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O exemplo de Elena Piscopia tem
inspirado gerações de mulheres e homens de todas as idades. Um exemplo recente
de uma última influência sua foi o livro intitulado The Lady Cornaro: pride
and prodigy of Venice, by Jane Howard Guernsey, publicado em 1999. Foi o
primeiro estudo profundo da sua vida.
Fonte:
Elena Lucrezia Cornaro Piscopia: the prodigy of
Venice. In: Women in Science. European Commission. 2009.
p. 22-25