Artigo publicado na Revista Pesquisa Fapesp cita pesquisa publicada o ano passado na Scientometrics que retrata a autocitação excessiva em países emergentes como Brasil, Índia, China e Rússia - fato que provoca o chamado isolamento científico.
Destacamos abaixo alguns trechos:
A pesquisa revelou que o grupo de campeões em autocitação nacional reúne países com grande extensão, como os Brics (Brasil, Rússia, Índia e China), e aqueles que constituíram, ao longo da história, sistemas políticos fechados, destacando Irã e Cuba, além de ex-integrantes do bloco soviético (Sérvia, Ucrânia e Polônia). Países com menores níveis de autocitação são, na maioria, aqueles com pequeno território, mas alta proporção de programas de pós-graduação ministrados em inglês, como Israel, Dinamarca, Cingapura e Emirados Árabes Unidos. Enquanto a China registrou, no período analisado, 51% de autocitações, do total de citações que o país recebeu, apenas 15% eram de artigos de Israel feitos por autores do próprio país.
A influência que a área territorial exerce sobre a autocitação nacional está atrelada a outros fatores. Índices elevados de autocitação nacional em países grandes e desenvolvidos, como os Estados Unidos, com taxa de 47%, são esperados. O país produz o maior volume de pesquisas no mundo, geralmente com artigos de alto impacto; portanto, espera-se que seus papers sejam muito citados. O Brasil, que apresenta índice de autocitação nacional alto e crescente, também é um país grande, mas menos desenvolvido, o que significa que as causas são distintas das dos Estados Unidos.
“Quanto mais revistas científicas um país tiver, mais autocitação receberá”, explica Rogério Meneghini, coordenador científico da biblioteca virtual Scientific Electronic Library Online (SciELO), que também chama a atenção para as diferenças entre os sistemas adotados pelos bancos de dados internacionais mais reconhecidos. O Web of Knowledge, da Thomson Reuters, é o mais tradicional e tem cerca de 12 mil periódicos indexados. O concorrente Scopus, da Elsevier, chega a 23 mil publicações, revelando, portanto, um sistema de seleção menos exigente. A disputa pelo mercado entre ambos cria condições favoráveis para que publicações de baixo prestígio internacional sejam incorporadas rapidamente.
“A publicação que aqui é considerada referência e apresenta artigos de excelente qualidade no exterior pode ter a importância reduzida quando levado em conta seu índice de citação nacional”, afirma Gilson Volpato, professor do Instituto de Biociências da Unesp em Botucatu e autor de livros sobre redação científica. Um exemplo lembrado por ele é o da Revista Brasileira de Zootecnia, editada pela Sociedade Brasileira de Zootecnia. Embora ainda bem classificada pela avaliação Qualis da Capes, a publicação foi praticamente congelada no Journal Citation Reports (JCR), ligado ao Web of Knowledge, ao atingir taxas altíssimas de autocitação nacional. O conjunto de publicações brasileiras que foram, em 2011, suprimidas do Journal Impact Factor, ligado ao JCR, inclui ainda as revistas Planta Daninha, Revista Brasileira de Farmacognosia e Revista Ciência Agronômica, por terem desenvolvido padrões anômalos de citação, provocando distorções em seus fatores de impacto.
No Brasil, as áreas agrícola e de saúde pública são bons exemplos de setores que se voltam para o local, mas que, ao mesmo tempo, produzem artigos reconhecidos internacionalmente. “Muitos países estão interessados em saber como o Brasil driblou uma situação climática ou de solo para determinada cultura vegetal. Trata-se de utilizar dados locais para depois generalizá-los”, afirma Meneghini. Como exemplo, Volpato menciona o educador Paulo Freire (1921-1997), que estudou a alfabetização de adultos e ficou conhecido internacionalmente ao desenvolver, com dados locais, conceitos globais. “Não fazer isso é uma questão de fragilidade na postura científica de nossos pesquisadores”, conclui.
Fontes:
http://revistapesquisa.fapesp.br/2013/02/11/conhecimento-ilhado/
http://www.pesquisamundi.org/2013/02/conhecimento-ilhado.html