terça-feira, 4 de novembro de 2014

Mulheres na Ciência: Mary Somerville

Apresentamos nesta postagem, mais um capítulo em tradução livre nossa do livro Women in Sciencepublicado pela Comissão Européia de Investigação:

A cientista escocesa superstar

Uma criatura selvagem

Mary Fairfax nasceu em 26 de dezembro de 1780 na casa de seus tios em Jedburgh na Escócia, onde sua mãe, Margaret Charters, estava  descansando de sua viagem entre Londres e Fife. O pai de Mary, o Vice-Almirante Sir William George Fairfax estava em alto-mar a trabalho. Com um pai ausente e uma mãe cuja única preocupação era que ela aprendesse a ler a Bíblia e rezar, Mary teve, em suas próprias palavras, a permissão para crescer como uma criatura selvagem. Como era costume no século 18, a sua educação  foi ocasional e limitada. As únicas aulas formais que Mary teve foi durante um ano na Boarding School for Girls em Musselburgh, perto de Edinburgo, durante o qual  foi bastante infeliz. Ela estudou Aritmética aos 13 anos e deparou-se com a Álgebra acidentalmente quando lia um artigo numa revista para mulheres. Ela então persuadiu o tutor do seu irmão a comprar livros para ela, permitindo-lhe que pudesse desenvolver seu interesse pelo assunto.

Dois casamentos e um funeral.

Em 1804, Mary casa-se com seu primo, o Capitão Samuel Greig. Ele não possuía interesse em Matemática ou Ciência, e tinha em baixa consideração a intelectualidade das mulheres, porém não interferiu no estudo da esposa. O casal teve dois filhos, Woronzow e William George. Seu marido falece três anos após o casamento, em 1807.
A viuvez e uma considerável herança dão à Mary independência, permitindo que continuasse a estudar conforme seu desejo. Ela alcança uma sólida base em Matemática e começa a se interessar por Astronomia. Em 1812 se casa novamente. Seu segundo marido, Dr. William Somerville, era inspetor da junta médica do exército. Sendo ele um cientista, foi um ativo apoiador dos empreendimentos da esposa, servindo como seu secretário e editor, bem como introduzindo-a aos colegas cientistas. Seu círculo social em Londres incluía proeminentes estudiosos como Charles Babbage e a família Herschel. Mary e William tiveram  quatro filhos.

Uma personalidade magnética

Mary aprofundou-se seriamente em seus estudos e seu primeiro sucesso veio quando  ganhou uma medalha de prata num concurso de Matemática. Com o segundo marido estudou Geologia, coletou e descreveu minerais, expandindo mais tarde seus interesses com estudos de grego, Botânica, Meteorologia e Astronomia.

Ela começa seus experimentos científicos sobre o magnetismo no verão de 1825. No ano seguinte, seu paper ‘The magnetic properties of the violet rays of the solar spectrum’ foi apresentado na Royal Society pelo seu marido. O trabalho atraiu críticas favoráveis e foi publicado. Embora a teoria contida no paper tenha sido refutada mais tarde, o trabalho em si marcou Mary como uma habilidosa escritora científica.

Após esse sucesso, Mary é persuadida a  produzir uma tradução popular da Mécanique Celeste de Marquis de Laplace, a fim de que um público mais amplo pudesse entender o trabalho do grande matemático e astrônomo francês. A sua tradução e a longa introdução que adicionou à obra foram um triunfo. Um busto dela é colocado no hall da Royal Society em comemoração ao sucesso do acontecimento.

O Alinhamento dos Planetas

Mary viaja para a Europa Continental em 1832, onde passa a trabalhar em seu segundo livro. On the Connexion of the Physical Sciences, publicado em 1834, inclui uma discussão sobre um planeta hipotético perturbando Urano -  a qual inspira John Couch Adams a continuar sua investigação, que o leva à descoberta de Netuno.

Em 1835, junto com a astrônoma Caroline Herschel, Mary torna-se a primeira mulher membro da Royal Astronomical Society. O governo lhe concede uma pensão de 300 pounds por ano.

La dolce vita

Com William doente, os Somervilles mudam-se para a Itália em 1838, onde Mary gastaria a maior parte do resto de sua vida. Seu livro de maior sucesso, Physical Geography apareceu em 1848. Ele foi amplamente usado nas escolas e universidades por meio século. Ela posteriormente escreve mais dois livros, Molecular and Microscopic Science e sua auto-biografia, Personell Recollection (publicado em 1873), antes de sua morte em Nápoles, em 28 de novembro de 1872, um mês antes de completar 92 anos.

Realizações Científicas

Mary Somerville foi reconhecida pelos seus colegas cientistas como igual, e alcançou enorme sucesso popular com sua escrita e com sua habilidade de traduzir a informação científica em termos claros e inteligíveis para o grande público. Seus quatro trabalhos acadêmicos cobriram uma ampla gama de tópicos científicos, propondo novas teorias e tornando conceitos complicados mais fáceis de entendimento.

A óbvia capacidade intelectual de Mary, combinada com modéstia, demonstraram que as mulheres podiam rivalizar com os homens academicamente, e ela foi recompensada por isso com sua nomeação para a Royal Astronomical Society, passando a receber uma pensão governamental. Durante sua vida ela se esforçou para melhorar as oportunidades intelectuais e sociais para as mulheres. Esta certamente foi uma das razões pelas quais, após sua morte, uma das primeiras faculdades para mulheres da Universidade de Oxford, a Somerville College, ser assim chamada. Ela também foi imortalizada na designação de um asteroide e uma cratera lunar com o seu nome.


Maitland Building construído em 1913

Fontes das imagens: 

Nenhum comentário:

Postar um comentário